Folhas Soltas

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Deambulações



A chuva penetra pela janela fechada, enquanto eu sentada, permaneço quase imóvel sem saber se me devo deixar invadir pelo tornado que espreita das ruas ou se continuo na apatia da indiferença desta impossibilidade de discernir o que são aquelas coisas delicadas que caem dos meus céus, dos sete mil que povoam a minha cabeça. A sua delicada leveza deixa-me perscrutar frágeis folhas caindo duma árvore muito longínqua. Mas não…são turvos, ou será da minha visão? Serão flocos de neve? Sinto-me gelada…sim, serão! Fecho os olhos e sou evadida… está deserto e frio, o chão é um manto de folhagem húmida e gélida. Por entre os tons acastanhados do meu longo caminho fito um piano de cauda. É preto. Deixa por instantes a sua harmoniosa melodia e encarrila numa linha de notas que não se entendem. Depressa volta ao eixo da singela melodia. É melancólica…e escura. É bucólica. Mas traz réstia de esperança. Tenho de ir, ainda sem perceber se devo abanar esta existência ou continuar até ser abalroada e, nesse momento, levada a ver o que renego, a ouvir o que resisto a confrontar-me com a realidade que não quero. Que quero eu afinal? Que quer este ser um tanto narcísico? Será isto o amor? Sofrer sem saber por quê? Tenho-te ao meu lado… porque me sinto então assim? Não sei, nem sei se desejo saber. Nem sei se nada sei ou se simplesmente não o sei porque não o quero saber. Sabes? Fica sempre tanto por dizer. Mas não o sei enunciar. O fio por onde se desenrola o meu pensamento é demasiado intrincado como uma faca de serrilha. Corta!

2 Sussurros Vossos:

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