Folhas Soltas

segunda-feira, janeiro 29, 2007

As maravilhas deste cantinho à beira-mar plantado

Infelizmente só podemos escolher 7 das 21 já finalistas... mas vá, cliquem lá.

www.7maravilhas.pt

P.S. - Deixem as vossas sugestões por aqui, poderemos elaborar uma nova lista de maravilhas de Portugal.

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Este Porto que vivo II

Cidade máilinda, esta que vivo, intrincada de história, despida de vergonha, repleta de pessoas afáveis, e de gestos do mais genuíno que existe. Ao virar de cada esquina deparamo-nos com o inesperado. Nunca se sabe o quão estranha, de tão genuína e bela que é, será a situação que nos vai embeber os sentidos de seguida.
Respira-se gente e aspira-se a sê-lo.
Enquanto se ouviam os compassos da guitarra, a doçura daquela voz (que por si só, é alma) e o trinar daquele bandolim iluminado, eis que há alguém que vê para lá do corpo inerte. E dele nasce a beleza da alma transposta em traços de carvão sentidos.










Desenho de Júlio: Carvão S/ Papel

17 de Janeiro de 2007

Ah! Porto, como és belo.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Não, não te abandono

A sua cara de surpresa ao ver-me entrar naquele quarto trouxe-lhe ao semblante uma expressão de menino a quem acabam de dar uma guloseima. Ah!, e como me soube bem. Rasguei um sorriso e olhei-o nos olhos ainda com réstia de tristeza. Aquelas mãos cansadas e sábias nas minhas…cheias de rugas tão ternurentas.
Sentei-me naquela cadeira que parecia estar à minha espera…à minha ou à de quem não chegava. Fizemos daquele quarto uma tertúlia de gerações como eu não me lembrava poder haver. Falamos da “tua senhora”, como lhe chamaste, abrindo o meu sorriso molhado. Os meus olhos teimavam em humedecer a cada 5minutos que passavam, mas rapidamente enviava uma mensagem ao meu cérebro e estancava as lágrimas. Forte, forte és tu que rias e sorrias ao som das tuas piadas malandras.
O teu ar envelhecido, terno, triste, vulnerável; os cabelos brancos, as rugas marcadas, os traços tão familiares… e de repente estava diante de mim o meu pai, mais velho, mais dependente, mais lindo!
Passaram três horas e continuavas a insistir que eu deixasse aquele quarto, enquanto no fundo esperavas que eu ficasse. Nos teus olhos conseguia-se ler “não me abandones!”.
Toda a minha força começava a esmorecer bem como a capacidade de conversar. Travava uma luta entre o que pensava e o que podia dizer. Não posso estar triste, não agora, não posso!
Tem calma avô, tem calma. Isto passa rápido, não tarda estás a sair daqui.
Ao fim do compasso agonizante e desesperante de espera, a enfermeira entrou no quarto, olhou para mim com um sorriso, olhou-te nos olhos e disse algo que não me recordo, por estar demasiadamente embrenhada e emaranhada naquele mar de emoções, mas que certamente foi o ponto de partida para a preparação da cirurgia.
Não me lembro de corredores tão desajeitados como aqueles que não me permitiam ir a teu lado. Ou seria eu que já não tinha Norte?
Chegou a hora de te deixar, de dizer um até já: “Com calma avô, não fique nervoso. Não tarda está de volta ao quarto e como novo.” O discurso que tinha outrora tentado articular, na esperança de brincar contigo, como sempre fiz, voou da minha mente e só consegui segurar a lágrima que teimava em querer sair. E as tuas mãos a agarrar as minhas com toda a força, e os teus olhos a encherem-se de água, e o meu coração a ficar apertadinho.
Voltei ao quarto e esperei a enfermeira. Pude então soltar todas as lágrimas que corriam serenas pela face, como chuva que cai e me molha o rosto. A enfermeira rompeu de novo a entrada do quarto com aquele sorriso sereno, explicou-me tudo o que lhe pedi, esteve disponível para tudo. Disse-me para vir sempre, quando quisesse. E eu vou, eu vou avô. Não te abandono. Não, não te abandono!